política

Hoje é o dia D

16/08/2015 – 01h10

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Hoje, 16 de agosto, é o dia D, a mais esperada data dos últimos tempos. Tanto pelas hostes que se opõem ao governo Dilma quanto pelos exércitos que a defendem. A primeira e óbvia constatação é a de que as galeras contrárias, em quantidade infinitamente superior às turbas favoráveis, devem comparecer em massa às ruas para gritar o “fora Dilma”. Daí a expectativa de que a mobilização deverá surpreender, ultrapassando a casa do 1,5 milhão registrado  no evento de junho de 2013, até então o maior da contemporaneidade, só comparável à multidão que encheu o Vale do Anhangabaú, em 16 de abril de 1984, por ocasião do comício das Diretas Já.

Há quem aposte que cerca de 5 milhões de pessoas sairão às ruas. Aguardemos a aferição dos institutos. O fato é que a convocação, a indução e a lembrança intermitente do evento pelas redes sociais criaram o clima e aumentaram as expectativas em centenas de cidades.  Donde se aduz que, em face de um número menor – algo em torno de 500 mil pessoas – esta segunda feira poderá ser o dia da “reversão de expectativas”. Haverá, sem dúvida, exageros dos grupos pró e contra, alargando ou diminuindo as quantidades. Se ficar entre 1 e 2 milhões, é aceitável caracterizar a mobilização como “muito grande”; para considerá-la “gigante”, a conta deve ultrapassar a casa dos 3 milhões, concedendo-se o atributo “monumental, coisa nunca vista no Brasil” , caso a participação fique entre 5 a 6 milhões de pessoas.

Aceita tal planilha, a pergunta que cabe é sobre eventuais impactos do movimento sobre a esfera político-governativa.

Levando-se em consideração o foco da mobilização – afastamento da presidente da República – , a resposta comporta as seguintes alternativas: a) a saída da presidente, pela via do impeachment ou da renúncia; b) a permanência de Dilma, com o apoio de uma base governista menor, porém revigorada, até o final do mandato, quando fechará o ciclo PT no poder; c) a permanência da mandatária até mais adiante, quando novas informações da Lava Jato funcionariam como petardo de poder destrutivo contra expoentes da política, entre os quais o ex-presidente Lula.

O quadro tumultuado abriria o cenário de afastamento. Para a primeira hipótese, o evento de hoje funciona como aríete a fustigar o paredão do castelo, como nas guerras antigas. Se for “monumental”, transforma-se em arma capaz de arrombar a fortaleza; se for de média envergadura,  sua força se dispersará e acabará caindo na linha da banalização. Interpretando: de um lado, terá o poder de influenciar decisões do TCU e do TSE, os dois tribunais que julgarão as “pedaladas” fiscais e as contas da campanha de Dilma; de outro, não gerará conseqüências de vulto.

Para que Dilma seja impedida pelo Congresso, é preciso o fator causal. Até o momento, trabalha-se com hipóteses. Vale esclarecer: sob a égide da Justiça, nada ocorrerá fora da letra constitucional. Driblar a lei seria golpismo, coisa inviável na atual conjuntura. Agirão como indutores do estado social componentes do que chamamos de Produto Nacional Bruto da Infelicidade (PNBInf): dinheiro curto, carestia de vida, desemprego, serviços urbanos precários etc. Sob essa paisagem  devastada, as manifestações ganham volume e a animosidade social se expande.

O fluxo das pedras do dominó seria este: balão da opinião pública inflado pelo Lava Jato; economia estrangulada puxando a insatisfação; indignação manifesta nas ruas; força social, como aríete, pressionando Tribunais e empurrando vãos dos Poderes; Parlamento tomando decisões sob o calor das ruas. Ou, no contraponto, pedras do dominó balançando, mas não caindo. Palácio do Planalto pichado, porém em pé.

Sob essa teia, emergem outras questões: a economia encurtará mais o dinheiro no bolso? A inflação chegará aos dois dígitos? Resposta positiva acende a hipótese de acirramento da alma social nos próximos meses. O governo terá arsenal para batalhar por sua salvação? Haverá espaço para acomodar a nova base política?  Terá condições de resistir ao tiroteio? Nos últimos dias, a agenda Brasil abriu um respiro nos pulmões governamentais.

Na arena de guerra, prevê-se que o fogo da Procuradoria Geral da República queimará o comandante da Câmara. Terá condições de resistir caso o STF acolha algum pedido para seu afastamento? É certo que a luta entre as instâncias de investigação (MP, Judiciário, PF) e a tropa política será longa, ensejando conflitos até as margens eleitorais do amanhã.

Quanto à Dilma, não se espere sua renúncia. Sua índole não permite tal gesto, que poderia ser interpretado como fraqueza. O impeachment poderá ser uma reta ou uma curva, a depender do desdobramento dos cenários acima desenhados. Qual é mesmo o objeto central? Por enquanto, a visão realça a imagem de uma governante claudicando, magoada, chegando, trôpega, ao fim de linha em 2018. Lula, por sua vez, terá grandes dificuldades de voltar a comandar o país. Seu gogó palanqueiro não está tão afiado como antes.

Os círculos concêntricos produzirão marolas no centro do lago, ajudando a desconstruir sua força junto às margens.  Mas a política é como Fênix; seus atores podem ressurgir das cinzas. Senador ou deputado, quem sabe, Lula seria o refundador do carcomido PT.